Ida ao Médico Dentista e diagnóstico precoce do Cancro Oral
O cancro oral, muitas vezes desvalorizado, é o sexto cancro mais comum do mundo. A chave para o sucesso do seu tratamento está no diagnóstico precoce. Em Portugal surgem 15 casos de cancro oral por cada 100 mil habitantes, tendo uma das taxas de incidência e mortalidade mais elevadas a nível europeu. Estes factos podem ser explicados pelo diagnóstico tardio em muitos dos casos, em que já há metástases noutras localizações do corpo.
Para que haja um diagnóstico precoce, é necessário que o paciente saiba identificar os primeiros sinais e sintomas e que faça rastreios regulares à cavidade oral. Percebe-se então a importância das visitas frequentes ao médico dentista. Muitas vezes, é o primeiro e único profissional de saúde a examinar a cavidade oral do doente e a descobrir sinais de doenças sistémicas que o paciente ignora. A periodicidade das consultas permite uma relação mais próxima entre médico-paciente, mais do que com o médico de família.
As pessoas com maior risco de vir a ter cancro oral são:
- Homens, com mais de 40 anos;
- Fumadores e consumidores moderados a elevados de álcool;
- Portadores do Vírus do Papiloma Humano (HPV);
- Imunodeprimidos;
- Pessoas com relação familiar de cancro oral;
- Próteses dentárias mal adaptadas (traumatismo crónico);
- Hábitos traumáticos como “morder a bochecha” continuamente.
As localizações mais comuns do cancro oral são:
- mucosa mais fina (“bochecha”);
- pavimento bucal (onde assenta a língua);
- palato mole (“céu da boca”);
- língua, o lábio e a mandíbula.
Os pacientes devem fazer inspeções cuidadas à sua cavidade oral, avaliando ao espelho e palpando se há algo de anormal que já dure há pelo menos 3 semanas, como:
- zonas com alteração da dimensão, da cor, da forma, da textura;
- úlceras que não cicatrizam;
- dor, assimetrias, dificuldade em engolir, em abrir a boca, em movimentar a língua;
- massas no pescoço, etc.
É também importante perceber que estes cenários podem ser alterações não associadas a cancro, daí ser difícil que haja um diagnóstico precoce. Muitas vezes, o cancro oral é silencioso, começando a dar sinais evidentes já numa fase muito avançada da doença.
Nas visitas regulares ao médico dentista, através da recolha da história médica e da observação clínica e radiográfica, o profissional consegue fazer um diagnóstico que não se limita apenas aos dentes, pois o médico dentista trata também as doenças da cavidade oral e dos maxilares e está atento a anomalias relacionadas com patologias malignas.
O médico dentista deve aconselhar uma melhoria dos hábitos diários, nomeadamente:
- Evicção de hábitos tabágicos;
- Diminuição do consumo de bebidas alcoólicas;
- Uso de creme labial com fator de proteção UV;
- Alimentação mais nutritiva;
- Vacinação contra o HPV e promoção de relações sexuais
Caso o médico dentista desconfie de patologia maligna, fará uma biópsia e enviará para análise anátomo-patológica. Se o diagnóstico der positivo, o paciente passará a ser seguido pelo médico assistente de Oncologia.
O tratamento do cancro oral passa por cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia. O prognóstico vai depender do diagnóstico precoce/tardio, dos hábitos do paciente, do tratamento e da localização onde se insere. Apesar de todos os avanços no tratamento, a taxa de sobrevivência aos 5 anos no cancro oral permanece em cerca de 55%. É imperativo alterar estas estatísticas e apostar na prevenção.