A relação estreita entre a Diabetes e a Periodontite
A diabetes é uma das doenças com maior taxa de mortalidade a afectar a espécie humana na actualidade. Em 2016, quase um milhão de portugueses com mais de 30 anos sofria de diabetes, doença que mata mais de 12 pessoas por dia em Portugal. De acordo com o primeiro relatório global sobre a Diabetes da Organização Mundial da Saúde, a prevalência da diabetes tem vindo a aumentar nas últimas décadas e Portugal não é excepção, estimando-se que 9,2% dos portugueses (aproximadamente 952 mil pessoas) sofram desta doença.
É frequente as pessoas terem informação sobre possíveis complicações associadas à diabetes: pé diabético, nefropatia diabética, disfunção sexual, hipertensão arterial, retinopatia diabética - complicações que evoluem de forma silenciosa e muitas vezes já estão instaladas quando são detectadas. Existe uma crescente evidência científica que comprova a relação bilateral entre a diabetes e a doença periodontal. No entanto, aquando do diagnóstico da diabetes, os doentes raramente são elucidados sobre este facto e sobre a importância do tratamento periodontal para o controlo da diabetes e vice-versa. Poucos são os pacientes diabéticos que vêm à consulta de Higiene Oral com conhecimento desta ligação.
A periodontite constitui uma potencial fonte de desordem metabólica uma vez que é uma infecção causada pela presença de bactérias. O paciente com diabetes tem má tolerância a infecções pois estas aumentam a resistência à acção da insulina, ocorrendo alterações na glicémia que podem levar a situações graves (como coma diabético). Mesmo a perda característica de dentes que acompanha a progressão da periodontite terá repercussões na dieta e, portanto, nos hábitos alimentares do diabético. Por outro lado, quem padece de diabetes vê o risco de desenvolver de doença periodontal aumentado em três vezes. Isto porque o aumento do açúcar no sangue provoca uma série de alterações gengivais que aumentam a susceptibilidade à acção das bactérias, o risco de infecções e comprometem a capacidade de cicatrização da gengiva. A periodontite é mais agressiva no doente cuja diabetes não está controlada causando perda mais rápida do osso de suporte dos dentes e consequente perda de maior número de dentes; são também mais frequentes os abcessos periodontais. O controlo da diabetes é fundamental para garantir o sucesso do tratamento periodontal.
A educação do doente diabético passa pela recomendação da adopção de hábitos de vida saudáveis: dieta equilibrada, exercício físico regular, consumo baixo de álcool, cessação tabágica, consultas regulares com a equipa médica, etc. Devia ser já obrigatória a inclusão nesta lista de recomendações as consultas regulares com profissionais de saúde oral e o aconselhamento sobre os hábitos de higiene oral diária. Em suma, o diagnóstico da doença periodontal, o seu tratamento e controlo são fundamentais para melhorar consideravelmente o controlo da diabetes e desta forma diminuir o impacto dos efeitos adversos desta doença metabólica.